A barca segue seu rumo lenta
Como quem já não
Quer mais chegar
Como quem se acostumou
No canto das águas
Como quem já não
Quer mais voltar…Os olhos da morena bonita
Agüenta que tô chegando já
Na roda conta com o seu
Ouvir a zabumba
Me leva que quero ver
Meu pai…
(caminho das aguas)
Na ultima terca-feira, eu estava na beira do palco do show da Maria Rita na Koko, uma pequena casa de show em Camden, o bairro mais legal de Londres (talvez do mundo). A casa estava cheia de brasileiros, mas apesar de parecer pouco a vontade no palco, Maria Rita foi simpatica conversando com o publico em ingles e portugues, para respeitar os poucos nao brasileiros presentes. Estava num salto enorme e de vestido curtinho e brilhante, para exibir as pernas bem torneadas que modelou depois do album Samba Meu. Achei que ela manteve o seu jeito duro e desengocando ao dancar desde o primeiro album, mas procura brincar fazendo caras e bocas para o publico, tenta com pouca seguranca sambar, interpretou 3 musicas que nunca gravou, incluindo Lily Brown do Chico, e cantou tudo divinamente…ainda mais divina ao vivo, pra deixar a gente emocionado, embasbacado, e roucos. AMEI – me senti no Brasil e em catarse a cada musica.
Confesso que rolou uma lagriminha na segunda musica que ela cantou como se fosse uma oracao (acho ateh que ela sorriu pra mim essa hora): Caminho das Aguas. Porque eh algo que fala de saudade daquele jeito particular que a gente tem, sem dor, mas com forca e sensibilidade. Porque a voz dela eh ainda mais tocante ao vivo. E porque eu to me sentindo tao dentro dessa musica, sonhando chegar em casa e abracar minha familia, apertar meus afilhados, sentir o cheiro da minha casa e da comidinha da minha mae, botar a conversa em dia com meus amigos tao queridos, e me lambuzar de mar, sol e areia. Mas ah…eu tenho gostado tanto do lado de cah, que as vezes acho que esqueci o caminho de casa.
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Enquanto esperava o show conheci Shayla (sheila), brasileira que vive na Inglaterra ha onze anos, uma das pessoas adoraveis que passam no meu caminho, contam um pedaco da sua historia, a gente curte um momento curtinho juntas, como um show, dizem algo memoravel e saem correndo como se fossem o coelho de Alice. Pois Shayla me disse algo terrivelmente real:
“Desculpe, mas voce nunca mais vai ser feliz. Eu nao sou. Feliz eh o colono que nunca saiu da sua cidadezinha e aquilo pra ele eh bom o suficiente, eh tudo que ele conhece. Se voce saiu do seu sitio, nunca mais vai estar completa, nem aqui, nem lah, sempre vai querer algo mais, sempre vai sentir falta de algo que deixou em algum lugar”. – mas depois ela acrescentou “eu nao queria ser o colono feliz”.